4 de ago. de 2017

Naum, o Poeta

I - Nome - Praticamente nada se sabe do profeta, com exceção do seu nome e, mesmo assim, esse nome não é mencionado  em nenhuma outra parte da Bíblia, exceto na genealogia de José, o suposto pai de Jesus (Lucas 3:26). Como muitos outros profetas, Naum é apenas uma voz. Sem dúvida o nome que ele levou tem a sugestiva significação de um “Consolador”.
II - Lugar de Nascimento - Ele é apresentado como “Naum, o elcosita”, frase que, provavelmente, tem como base designar o seu local de nascimento, embora, como sugere o Targum, seja o nome dos seus antepassados.. Compare-se com “Elias, o tesbita” (1 Reis 17:1). A Septuaginta o chama de “Naum, o elquesita”. Quatro conjecturas têm sido feitas a respeito do seu local de nascimento: 1. – Al-Kush, uma vila que fica 38 Km ao norte de Mosul, em frente de Nínive, a qual foi por muito tempo um sítio dos patriarcas nestorianos, onde o seu sepulcro é reverentemente assinalado, tanto por cristãos como por maometanos, e, especialmente,  pelos judeus que ali residem. Se o profeta viveu e profetizou ali, suas descrições gráficas de Nínive seriam mais bem explicadas e seria ele, naturalmente, um membro das Dez Tribos que foram levadas por Tiglate-Pilesser, em 734 a.C. Ewald aceitou essa identificação. Contudo, a tradição que associa Naum com Al-Kush não pode se atrasar além do século 6 a.C. Ain-Japhata, um povoado situado ao sul da Babilônia, desde 1165 d.C., assinalou a Benjamim de Tudela outro sepulcro tradicional de Naum. O Kause, uma pequena vila de Galiléia setentrional (Jerônimo). Ainda Hitzig identificou Cafarnaum com o local de nascimento do profeta, por causa do nome árabe Kefr-Nanhum (A Cidade Naum). Compare-se, contudo, João 7:52. Elkese, “mais para lá de Betogabra”, isto é, Beit Jibrim, fica  32 Km ao sul de Jerusalém, na tribo de Simeão. Também na visão siríaca da obra “A Vida dos Profetas”, datada de 367 d.C., atribuída erroneamente a Epifânio, Bispo de Salamina. Também Cirilo de Alexandria e a Septuaginta. Nove quilômetros a leste de Beit Jibrim, no Waldyes Sulk, existe na atualidade um poço chamado pelos nativos de Bir-el-Kaus. Nestlé favorece essa identificação. De fato esta parece ser a mais provável de todas as identificações sugeridas. Porque às vezes Naum parece falar a partir do ponto de vista de Judá. E como um profeta entusiasta, ele dá a entender as circunstâncias locais (Naum 1:4, 15; 2:1 e 3:17).
III - Seu tempo - A data de Naum é indicada com bastante clareza em Naum 3:8-10, versos que tratam da queda de No-amón, isto é, Tebas, no Alto Egito, conforme já verificado, e de Nínive, como coisa preste a se realizar. A primeira foi capturada por Assurbanipal, em 663 a.C., e a última por Nabopalassar, em 606 a.C.,  ou então, conforme foi recentemente descoberto, em 612 a.C. O período do profeta, portanto, estaria dentro desses limites.
         Assurbanipal era extremamente cruel. Ele até se jactava de sua violência e de suas atrocidades, como arrancar os lábios e os membros dos reis, tendo forçado três governantes de Elam, capturados, a puxar seus carros pelas ruas, compelido um príncipe a levar pendurada ao pescoço a cabeça decapitada do seu rei, e de como ele e sua rainha comiam no jardim com a cabeça de um monarca caldeu, a quem obrigara a suicidar-se, pendurada numa árvore sobre eles. Nenhum outro rei da Assíria se jactava de barbaridades tão desumanas e atrozes. Conta-se que ao rumar para o Egito em uma de suas expedições, vinte e dois reis lhe tributaram homenagem. Ali chegando, tanto em Memfis, capital do Baixo Egito, como em Tebas, capital do Alto Egito, eles foram roubados e cruelmente castigados. O pobre povo de Judá e Jerusalém foi expectador de todas essas barbaridades. Em verdade eles já haviam presenciado, por várias gerações, uma sucessão interminável de invasões assírias à Palestina. Salmanasser II, em 842 a.C.; Tiglate-Pilesser, em 734 a.C.; Salamasser IV e Sargão II, em 724-722 a. C.; Senaqueribe, em 701. Esaardon, em 672, e agora Assurbanipal. E parecia que o pior ainda estava por vir. Parecia que Naum e seus compatriotas em Jerusalém estavam atados e impotentes nas mãos de um inimigo cruel e tirano (Naum 1:15-2:2). Nínive ainda se achava no ápice da glória (Naum 3:16,17). Pelo tom da profecia, podemos deduzir com razão que a destruição de Tebas era um evento relativamente recente e que a queda de Nínive ainda não havia acontecido, embora profeticamente próxima. Por isso a data exata do ministério de Naum provavelmente não foi antes de 650 a.C.
         Se assim foi, na certa o profeta exibiu um ousado vôo de fé, declarando a segura destruição de Nínive, quando a nação ainda não mostrava sinal algum de declínio. Outras datas propostas  para as atividades de Naum, tais como a do reinado de Ezequias, ou Joaquim, ou Zedequias, não estão seguramente atestadas pelos eventos históricos. O esforço de Happel para atribuir Naum a uma Escritura pseudo-epigráfica  da era dos Macabeus é suficientemente refutada pela menção prévia de “Os Doze Profetas” de Jesus ben Sirac, em Eclesiástico 41:10, o qual floresceu em 180 a.C. Porém, seja qual for a data correta do profeta, os anais assírios não deixam dúvida de que por toda a história da nação os assírios sempre foram cruéis, violentos e bárbaros, sempre jactando-se de suas vitórias, regozijando-se de que “já não havia espaço para tantos cadáveres”, de que “fizeram pirâmides de cabeças humanas” e de que “cobriam colunas com as peles de seus rivais”. Foi sobre um povo assim que Naum foi ordenado a pronunciar a destruição inexorável.
IV - Nínive - A cidade ficava no lado oriental do Tigre, em frente à moderna povoação de Mosul. Foi fundada por Ninrode de Babilônia (Gênesis 10:11) e dedicada especialmente à deusa Istar. Era a capital dos reis da Assíria, de 1100 até 880 a.C., e em seguida, novamente, depois que Senaqueribe tornou-se rei, em 705 e seguintes a.C. Era considerada, de fato, como a cidade principal do império.
         Nínive era três vezes fortificada por muros e fossos, fortalezas e torres, tendo seus muros 12 Km de circunferência, sendo tão largos que sobre eles podiam trafegar 3 carros, lado a lado. Era essa Nínive a capital da raça de homens provavelmente mais sensuais, ferozes e diabolicamente atrozes que já existiram no mundo inteiro. Eram grandes sitiadores de homens, gritando continuamente: “sítio, sítio, sítio!” Contudo, Naum declara que esses mesmos sitiadores do mundo seriam no final sitiados (Naum 3:1 e seguintes). As ameaças de Naum foram cumpridas de maneira extraordinária. Esaradon foi o último rei de Nínive. Os medos com os babilônios e outros derrubaram em primeiro lugar todas as fortalezas existentes ao redor da cidade (Naum 3:12) e em seguida sitiaram a cidade. Os ninivitas proclamaram um jejum de cem dias, tentando apaziguar os seus deuses (Ver Jonas 3:15), mas apesar disso, a cidade caiu. Kitesias descreve como a cidade sitiada passou sua última noite em orgias e bebedeira, seguindo  o exemplo do rei efeminado (Naum 1:10; 2:5). Para precipitar a catástrofe, o Tigre transbordou, abrindo brechas nos muros, quando o rei, ao constatar a iminente ruína da cidade, queimou-se vivo dentro do palácio (Naum 3:15-19) e a cidade foi saqueada de todos o seu rico despojo,  em seguida (Naum 2:10-14). Nínive caiu em cerca de 611 a.C. Sua destruição foi completa. Na atualidade nada mais resta da antiga cidade, além das grandes montanhas chamadas Konyunjik e Nebi-Yunis. Tão completa foi em verdade a ruína de Nínive que apenas Xenofontes reconheceu o local da mesma. Alexandre, o Grande, por ali passou “sem saber que um império universal estava sepultado sob os seus pés”. Luciano escreveu: “Nínive pereceu e não ficou um rastro sequer de onde existira antes”. Gibbon narra que logo em 62 D.C., “a cidade e ainda suas ruínas já há muito haviam desaparecido”. O viajante Niehbur, em 1766, por ali passou sem saber. Somente depois que Layard e Botta identificaram o local, em 1842, é que a cidade começou a ser reconhecida pelo mundo moderno.
IV - Conteúdo - As profecias de Naum correspondem naturalmente a três grandes divisões: 1. - Capítulo 1 - Um canto de triunfo sobre a queda iminente de Nínive, um canto sublime. 2. - Capítulo 2 - O juízo que virá: “a guarda dos leões” da cidade será destruída; a defesa é impossível. 3. - a iniqüidade da cidade: sua crueldade e avareza, sua diplomacia desonrada, sura prostituição e sua traição. Por isso, diz o profeta, Nínive há de cair totalmente, sob os aplausos das nações, nada restando para a consolar. O poeta parece regozijar-se muito com essa destruição.
V - Forma poética - Conforme sua estrutura poética o livro pode ser dividido em oito versos de tamanho quase igual.
1. - Capítulo 1:2-6 - Uma descrição de Javé vingador, o qual não deixará impune o crime.
2. - Capítulo 1:7-12 - Para ser fiel ao seu povo, Javé precisa destruir Nínive.
3. -  Capítulo 1:13 a 2:2 - O livramento  prometido a Judá e o juízo prometido a Nínive.
4. - Capítulo 2:3-8 - Uma serie de brilhantes descrições da captura da cidade; fora, os inimigos brandindo gloriosamente suas armas, carros correndo pelas ruas, brilhando como relâmpagos. Contudo, ai, ai, ai, tarde demais! As portas foram abertas e seus guerreiros deram as costas, fugindo às pressas. A rainha foi feita cativa e suas donzelas se lamentavam, batendo no peito.
5. - Capítulos 2:9 a 3:1 - Os habitantes se enchem de grande terror: de “joelhos trêmulos”. A cidade sanguinária, antes cheia, agora é saqueada.
6. - Capítulo 3:2-7 - Novos carros correm contra a cidade condenada. Nada os atrapalha, exceto as montanhas de cadáveres que enchem as ruas da  cidade. A desavergonhada rameira está prostrada e desnuda.
7. - Capítulo 3:8-13 – Assim, No-amón se rendeu; assim também terá de fazê-lo Nínive. Não há como escapar.
8. - Capítulo 3:14-19 -  A resistência será em vão. Como a locusta devoradora, virão os inimigos de Nínive. De fato, seu rei já pereceu e o seu povo se encontra esparso como ovelhas sem pastor. Ao ver a sua queda, as nações se regozijam.
         Quanto à forma poética, o livro de Naum é um dos mais lindos de todo o Velho Testamento. Nenhum outro profeta, exceto Isaías, pode-se dizer que se iguala a Naum em arrojo, ardor e sublimidade. Suas descrições são sumamente vivas e impetuosas. Sua linguagem é forte e brilhante, seu ritmo tem o estrondo do trovão, saltando e brilhando como um relâmpago, quando ele descreve os homens a cavalo e os carros. Por consenso geral, Naum é considerado um dos mestres do estilo hebraico. Sua excelência suprema não é a emoção, mas o poder de descrição, o qual, pelo seu indômito vigor e cor resplandecente, pelo expressivo, pinturesco e dramático de sua fraseologia, jamais foi superado.
VII - Mensagem - O profeta realmente resume a sua mensagem em Naum 1:7-9. Ele é preeminentemente um profeta que tem uma só idéia - a destruição de Nínive. Convencido de que Javé, mesmo sendo tardio e irar-se, não deixará de se vingar dos seus adversários, Naum projeta a luz do governo moral de Deus sobre Nínive, entoando o canto fúnebre do opressor maior do mundo. É o castigo do Senhor, por tanto tempo adiado, mas que é seguro e será completo e final.
         Naum se diferencia notavelmente dos seus predecessores, bem como dos seus contemporâneos - Jeremias e Sofonias - os quais visavam primeiramente a reforma de Israel. Em vez disso, o estribilho ou refrão de sua mensagem é uma certa forma de ardente indignação, a qual quase se assemelha a animosidade e vingança, expressando os sentimentos reprimidos dos seus compatriotas, os quais têm sofrido perseguições durante gerações, sentimentos que agora crepitam como chamas de fogo sobre o inimigo nacional de Israel. É a humanidade ultrajada que desperta e pede vingança. Duas vezes se escuta o refrão que diz: “Eis que eu estou contra ti, diz o SENHOR dos Exércitos, e queimarei na fumaça os teus carros, e a espada devorará os teus leõezinhos, e arrancarei da terra a tua presa, e não se ouvirá mais a voz dos teus mensageiros”  (Naum 2:13 e 3:5).
VIII - O valor de sua mensagem para nós - Três importantes lições ensinadas implicitamente por Naum são de fato permanentes:
1. - A universalidade do governo divino.
2. - Seu caráter de retribuição.
3. - Sua subordinação ao plano da graça.
         Lições como essas jamais podem se tornar antiquadas. Supõe-se que Naum, em primeiro lugar, falava à sua própria geração. Contudo, ele expressou os seus pensamentos de modo a se adaptarem às necessidades e consolo dos homens em todas as eras. Ele mostra que a destruição de Nínive não é um ato de soberania caprichosa, mas uma justa retribuição de suas iniqüidades. Quando interpretamos de maneira escatológica o seu livro, como devemos fazer, este adquire um valor incomparavelmente mais alto em relação ao que agora lhe tem sido geralmente atribuído. Ele não é o produto de um mero ódio nacional, mas um hino, ao mesmo tempo poético e divino, do que inexoravelmente há de se realizar na história. Não é o orgulho de Israel  que tem de defender-se, nem a rendição do seu povo, que vem primeiro, mas a vindicação do seu Deus.  Em outras palavras, a  grande lição do livro é que Deus jamais deixa de castigar a iniqüidade nacional e pessoal. Ele age com as nações do mesmo modo como age com os indivíduos. Como e lê em Tiago 1:15: “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”. O gozo de Naum, repetimos, não é meramente a exultação de um patriota irritado  sobre o inimigo vencido, mas antes a expressão alegre de uma sólida fé no Deus de seus pais. Para ele a destruição de Nínive estava subordinada à misericórdia salvadora que Javé precisava mostrar ao seu povo e, por meio deste, ao mundo inteiro.
         Seu oráculo é essencialmente, embora não explicitamente, messiânico, conforme Apocalipse 19:10: “...porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”. E de Atos 3:24: “Sim, e todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também predisseram estes dias”. Quando assim interpretamos o oráculo do profeta, este se torna uma mensagem de consolo, conforme o significado do seu nome. Ele não apontou claramente para o Redentor. O que ele fez foi preparar o seu povo para um tempo em que havia a probabilidade deste ceder ao desespero. Naum viu que o reino das trevas teria de cair, antes que se apresentasse o reino da luz. A destruição de Nínive, portanto, deveria acontecer antes de ser inaugurado o reinado do Príncipe da Paz. Mensagem como esta tem valor para todos os tempos e para tudo que sobreviva ao espírito de Nínive [Sadam Hussein e Bin Laden,  por exemplo]. Mesmo que o livro não esteja em contraste com o caráter gracioso do Novo Testamento, nem seja citado por nenhum dos seus escritores, o Espírito Santo tem ensinado implicitamente que todo poder temporal deve cair, antes que venha o Reino de Deus.
IX - Passagens importantes - Certas passagens são especialmente preciosas e, a menos que as assinalemos e lhes demos ênfase, existe o perigo de que nos passem despercebidas, neste livro que talvez tenha sido pouco lido.
1. - Verso 1:3 – “O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente; o SENHOR tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés”. Uma sugestão do provérbio italiano: “Deus não costuma remunerar o sábado”.
2. - Verso 1:7 - “O SENHOR é bom, ele serve de fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nele”.
3. - Verso 1:15 - “Eis sobre os montes os pés do que traz as boas novas, do que anuncia a paz! Celebra as tuas festas, ó Judá, cumpre os teus votos, porque o ímpio não tornará mais a passar por ti; ele é inteiramente exterminado”. Aqui se lê sobre o arauto da salvação temporal e espiritual. Talvez o original desta passagem seja a forma ampliada de Isaías 52:7: “Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina!”
4. - Verso 2:10:  “Vazia, esgotada e devastada está; derrete-se o seu coração, e tremem os joelhos, e em todos os lombos há dor, e os rostos de todos eles enegrecem.”
         Como todos os profetas do Velho Testamento, Naum gosta de usar o jogo de palavras. Mofat procura reproduzir o Hebraico, traduzindo assim: “Esta devastada, desolada e infeliz, desmaiando-lhe o coração e tremendo-lhe os joelhos”.

The Tweve Minor Prophets”, George L. Robinson
Publicado por George H. Doran Co, New York, 1926
Traduzido por Mary Schultze, março/abril 2004
Citações bíblicas da Bíblia Revisada FIEL de Almeida

Miquéias, o profeta dos pobres

I - Nome – Miquéias, o número seis entre os Doze, teve um nome que por si mesmo era um credo, pois a forma mais ampla e provavelmente mais antiga - Mikayahu - significa “Quem é semelhante a Javé?” (Mq. 1:1; 7:18; Jr. 26:18). Como Miguel, que significa “Quem é como Deus?". Miquéias tem quase o mesmo significado.
         Nosso profeta não deve ser confundido com Micaías, que era detestado por Acabe (1 Reis 22:8).
II - Lugar - Ele é chamado “morastita” (1:1), visto ter nascido em Moreset-Gat (Mq. 1:14), local situado 32 Km. ao sudoeste de Jerusalém. Jerônimo colocou Moreset a leste de Eleutherópolis, a moderna Beit-gibrin.
         Como Amós, Miquéias era natural do campo. Em geral existe mais religião no lar do campo do que no da cidade. Aparentemente Miquéias não gostava da cidade (Mq. 1:5;5:11;6:9).
III - Personalidade - Miquéias deve ter tido uma personalidade muito forte. Era um homem valoroso e de fortes convicções. O segredo de sua força está revelado em Mq. 3:8: “Mas eu estou cheio do poder do Espírito do SENHOR, e de juízo e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado”. Como um verdadeiro patriota e pregador fiel, ele denunciou vibrantemente o pecado e assinalou o local da vinda de Cristo. Ele foi, antes de tudo, um profeta dos pobres e um amigo dos oprimidos. Sua alma foi plena de simpatia leal pelos tiranizados. Sentia a mesma paixão de Amós pela justiça e tinha o mesmo coração amoroso de Oséias. Miquéias era um Amós redivivo. Sua grande sinceridade contrasta notavelmente com os lisonjeiros ensinos de seus contemporâneos, os quais, como falsos profetas, idealizavam  as mensagens conforme os seus soldos (Mq. 3:5).
IV - Seu tempo - Conforme o título do seu livro, Miquéias profetizou “nos dias de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá” (Mq. 1:1). Esta é uma data amplamente confirmada por evidência interna e também por Jeremias 26:18, o qual cita Miquéias 3:12. Foi, portanto, um contemporâneo de Isaías. Ele deve ter pregado tanto antes como depois da queda de Samaria (722 a. C) e muito provavelmente desde cerca de 735 até 715 a.C. Mackay opina ter ele pregado por mais de 40 anos.
         Sob o reinado de Jotão, o luxo era esplêndido. Sua ambição de construir fortalezas e palácios em Jerusalém custou a vida de muitos camponeses. Sob o reinado de Acaz, Judá foi obrigada a pagar tributos à Assíria, tributos que juntamente com o custo da guerra sírio-efraimita, em 734 a.C., caíram como uma pesada carga sobre todas as classes. Tanto os ricos como os pobres sofreram. Os arrendatários egoístas e avarentos usavam o seu poder para oprimir, confiscando os bens dos pobres e até mesmo expulsando as viúvas de suas casas. Todo tipo de crimes era perpetrado, com os ricos devorando as classes humildes, “como  ovelhas comendo a erva”. Sob Ezequias, que procurou reformar o estado, as condições se tornaram ainda mais desesperadoras. Os homens deixaram de confiar uns nos outros, enchendo Jerusalém de facções e intrigas. Os conselheiros do rei se dividiram na política, alguns advogando uma aliança com o Egito contra a Assíria e outros advogando uma submissão à Assíria.  Os encarregados da lei abusavam de seus poderes. Os nobres roubavam os pobres. Os juízes aceitavam suborno. Os profetas adulavam os ricos e os sacerdotes ensinavam em troca de remuneração (Cap. 2). A cobiça das riquezas imperava de todos os lados. Os tiranos opulentos se enganavam quanto a um possível juízo.  A comercialização e o  materialismo quase suplantaram o último vestígio do ético e do espiritual. Em semelhante crise apareceu Miquéias, procurando conduzir a nação de volta a Deus e aos seus deveres.
         Sellin acredita que Mq. 3:11,12 seriam mais inteligíveis depois da centralização do culto empreendida por Ezequias.
V - Mensagem -  A mensagem de Miquéias suplementou a de Isaías. Isaías era um cortesão, Miquéias um rústico. Isaías era um estadista, Miquéias um evangelista e sociólogo. Isaías tratou das questões políticas, Miquéias quase exclusivamente da religião pessoal e da moralidade social. Ele era mais democrático do que Isaías. Suas relações pessoais não eram com o rei, mas com o povo. Era um profeta do povo. Isaías ensinou a inviolabilidade de Sião, Miquéias predisse a sua destruição (Mq. 3:12). A nobreza tinha um conceito equivocado de Deus, imaginando que, por serem pessoas respeitáveis, o castigo era impossível. E como argumento indagavam: “Não está o Senhor no meio de nós?”  Completando: “Nenhum mal nos sobrevirá” (Mq. 3:11).
         Miquéias possuía idéias avançadas sobre o reino de Deus e elevou muito alto o modelo da religião e da ética, conforme Mq. 6:8: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” Toda a sua mensagem poderia ser expressa nesta declaração: “os que vivem de modo egoísta e luxuoso, mesmo que ofereçam sacrifícios dispendiosos, aos olhos de Deus são vampiros que sugam o sangue vital dos pobres”. Suas palavras também emocionam.
VI - Análise - Apesar da fórmula “OUVI”, repetida três vezes (Mq. 1:2; 3:1 e 6:1-2), a qual introduz as três principais seções do livro, a melhor divisão do material, conforme o caráter dos assuntos, é como segue: Caps. 1-3 - Juízo; Caps. 4-5 - Consolo; Caps. 6-7 - O caminho da salvação. Esta serve de rascunho até mesmo para um sermão moderno.
Caps. 1-3 – Denúncia severa e completa condenação. Estão cheios de invectivas apaixonadas contra os oficiais da igreja e do estado, acompanhadas de trovões de juízo, admoestação e ameaça, até que as censuras do profeta se tornam desagradáveis e os que as escutam ordenam que se cale (Mq. 2:6). Miquéias foi o primeiro entre os profetas a ameaçar Jerusalém com a destruição (Mq. 3:12). Contudo, a sorte do restante da nação foi clara e distintamente resguardada da sorte da capital. Suas ameaças, felizmente, foram seguidas de promessas de restauração.
Caps. 4-5 - Vislumbres da glória vindoura, com promessa se salvação, incluindo esperanças messiânicas e  escatológicas [Restauração que somente acontecerá no Reinado Milenar de Cristo, o Messias de Israel]. Miquéias olha para trás do mesmo modo como contempla o futuro. Como sempre acontece no Velho Testamento, sua visão do futuro está alicerçada nos feitos do presente. No livramento vindouro de Judá (como de Senaqueribe, 701 a.C.), Miquéias vê o futuro triunfo da justiça. Dois quadros se apresentam em sua mente - a exaltação de Sião e o nascimento do Messias, em Belém.
a)      Mq.4:1-5 - fazem uma descrição de Sião destinada, conforme ele vê, a se tornar a metrópole espiritual do mundo inteiro (sob a soberania do Deus de Israel), com as nações aceitando a lei do Senhor como o seu árbitro, um tempo de paz universal. Israel será supremo no que toca à religião. A idade áurea, por tanto tempo ansiada, tornar-se-á uma realidade.
b)      Mq.5:2 e seguintes - profetizam que o Messias haveria de nascer em Belém, como Davi. Isaías 7:14 havia predito: “...Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”. Miquéias prediz o seu nascimento numa vila. Setecentos anos depois, no reinado de Herodes, o Grande, os magos que procuravam o local, com a ajuda dos rabinos judeus, obtiveram desta passagem a direção para prosseguir sua viagem (Mateus 2:1-6).
Caps. 6-7 - A controvérsia de Javé, diálogo sumamente dramático, que vindica a providência de Javé. O povo enxerga Deus como um Senhor austero, avarento e exigente,  o qual procura submetê-lo a requisitos injustos. Eles querem saber quando Deus ficará satisfeito. Por meio de métodos cruéis e equivocados, os judeus tentam apaziguar a ira divina, oferecendo os frutos do seu ventre pelos pecados de suas almas (Mq.6:7). Javé lhes responde na que é considerada uma das maiores passagens do Velho Testamento: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus” (Mq. 6:8).  Huxley chama esta passagem de “o perfeito ideal da religião”, pois ela engloba todo o dever do homem: o verdadeiro culto é o verdadeiro ritual e a verdadeira moralidade. Logo o profeta prossegue fazendo, com grande ênfase, uma das mais acerbas críticas a uma comunidade comercial que se encontra em toda a literatura, denunciando: “a medida escassa” (Mq. 6:10) e os pecados sociais da nação, os quais estão empurrando todo o povo, irremediavelmente, para a destruição (Mq. 6:15-16). Nesta seção, todas as classes, e não somente os líderes, como nos caps. 1-3, e todo o povo comum é denunciado como sendo mau. Não existe homem bom (Comparar com Romanos 3:10-18). “O melhor deles é como um espinho...” (Mq. 7:4). O profeta termina com uma lindíssima oração, como uma nobre apóstrofe a Javé, o incomparável Deus do perdão e da graça (Mq. 7:7-20).
VII - Os três grandes textos de Miquéias
1. Mq. 3:12: “Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa como os altos de um bosque”. Este texto é a chave e o clímax da mensagem do profeta, famoso por ter sido lembrado depois de um século, o que possibilitou a salvação da vida de Jeremias: “Então disseram os príncipes, e todo o povo aos sacerdotes e aos profetas: Este homem não é réu de morte, porque em nome do SENHOR, nosso Deus, nos falou” (Jr. 26:18). Muito raramente um profeta do Velho Testamento cita outro. Evidentemente, a reforma de Ezequias pode ter sido animada, até certo ponto, por Miquéias (Comparar com 2 Reis 18:4).
2. Mq. 5:2 : “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. Miquéias foi o primeiro entre os profetas a fixar os olhos em Belém, como sendo o local do nascimento do futuro Libertador. Ele seria um servo. Não iria nascer ali na capital, ignorando todas as necessidades rurais, irmão dos patrícios. Seria um homem de origem humilde, participante das cargas dos pobres - de fato, um Libertador dos pobres. Miquéias, o profeta dos pobres, previu um Messias dos pobres.
3. Mq. 6:8 : “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus? “ Este verso é o lema escrito noDepartamento de Religião, no salão de leitura do Congresso de Washington. Contém os três maiores requisitos da verdadeira religião, isto é, fazer justiça, usar de misericórdia e andar humildemente. Ele resume nestas três fases todo o ensino da religião hebraica. A simplificação da religião sempre foi  a vocação do profeta. Davi reduziu - como sugere o Talmude - os 613 mandamentos do Pentateuco ao que está no Salmo 15. Miquéias os reduziu a três. E Jesus os reduziu a dois: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento... Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:37,39). Comparem estas passagens com Tiago 1:27.
a) Fazer justiça - a justiça na Bíblia é reconhecida como a moral elementar. Ela é a base de todo o caráter moral, a qualidade essencial de um homem bom. É um dos atributos de Deus. Ela significa dar aos semelhantes tudo quanto estes têm o direito de esperar. Não estamos falando da justiça de Shylock [personagem de Shakespeare], o qual insistiu teimosamente em tirar a sua libra de carne. Nem da de Rob Roy, que sustentava: “Tomem os que têm poder e guardem os que puderem”.  A mera justiça não basta. De preferência a justiça ideal do profeta é a eternaRegra de Ouro citada por Jesus em Mateus 7:12: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhos também vós, porque esta é a lei e os profetas”.
b) Amar a bondade (hesed), a compaixão e a misericórdia - Esta é a palavra favorita de Oséias e expressa uma qualidade mais elevada que a mera justiça. Muitos cumprem esta deixando de cumprir aquela. A misericórdia inclui a bondade. Às vezes a justiça denota uma dúvida, enquanto a bondade sempre denota graça e favor. É a bondade que, realmente, garante a prática da justiça.  Quando alguém não ama um princípio ele faz o possível para evitar a sua aplicação. A verdade é que a pessoa que faz o bem sem amar não é uma boa pessoa. Ela até finge que é boa, mas deixaria de fazer o bem, se isso lhe fosse possível. Deus deseja menos dos outros do que de nós mesmos.
         “A qualidade da misericórdia não é forçada;
ela cai como a chuva suave do céu,
sobre o lugar que está abaixo.
É duas vezes abençoada,
pois abençoa a quem dá
E abençoa a quem recebe” [Comparar com o amor da 1 Coríntios 13].
c) Andar humildemente - Este terceiro requisito é uma conseqüência dos dois anteriores. Não se pode obedecer aos dois primeiro sem obedecer ao terceiro (Amós 3:3: “Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”) [Pode alguém andar com Deus sem seguir a Sua Palavra Santa?] Enoque e Noé “andaram com Deus” (Gênesis 5:24 e 6:9). Um homem não pode andar com o deus do panteísmo. Andar humildemente significa render-se à pessoa, “inclinando-se para baixo”, como o fazem as crianças. A humildade é o maior adorno da religião.
         Estes três requisitos: a justiça, a misericórdia e a humildade -  a honestidade, a magnanimidade e um coração manso -  são, conforme Miquéias, as três coisas essenciais de uma vida religiosa. O Cristianismo não as modifica perceptivelmente e dá-lhes uma aplicação mais ampla e profunda. Só que Miquéias deixa, conforme Maclaren, de nos falar do poder de Deus, a fim de podermos cumprir esses requisitos. Somente na cruz poderemos encontrar o caminho.
VIII - Lições permanentes - A influência de Miquéias foi sentida, como já vimos, cem anos depois, no reinado de Joaquim (Jeremias 26:18) e até hoje não se tem imposto silêncio a essa voz. Entre as muitas lições ensinadas pela profecia estão as seguintes:
1. Voltar a Belém - É uma contra-senha notável. Para o profeta e seus contemporâneos significa voltar a Davi, que venceu os inimigos da nação e assegurou paz na mesma. A Davi, que estabeleceu uma capital nacional e organizou um governo central. A Davi, que executou o juízo e a justiça na terra. A Davi, de quem Jeremias predisse que Javé levantaria “um Renovo justo” (Jeremias 23:5 e 33:15). A Davi, ideal constante de teocracia. A Davi, sobre cujo descendente profetizou Isaías 16:5:  “Porque o trono se firmará em benignidade, e sobre ele no tabernáculo de Davi se assentará em verdade um que julgue, e busque o juízo, e se apresse a fazer justiça”. Finalmente o Messias da futura Idade de Ouro de Israel seria um homem como Davi.
         Para nós essa mensagem significa muito mais. Significa voltar-nos para Jesus Cristo, o Filho de Davi, o qual também nasceu em Belém. A Jesus Cristo, o segundo e maior Davi, o Príncipe da Casa de Davi. A Jesus Cristo, o Salvador da humanidade, tanto dos pobres como dos ricos. A Jesus Cristo, que era um trabalhador e um servo, nascido num estábulo, filho de uma camponesa, ele mesmo um carpinteiro. A Jesus Cristo, que em suas parábolas tinha prazer em falar dos campos e dos rebanhos; dos semeadores e dos ceifeiros; de ovelhas e de bois. A Jesus Cristo, que lavou os pés dos discípulos e carregou a sua própria cruz. A Jesus Cristo, o amigo dos pecadores humildes, e que aos pobres pregou o evangelho, que as pessoas comuns se deleitavam em ouvir. Tenhamoscuidado de não separar Jesus Cristo das pessoas comuns!
2. Voltar à justiça ética: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” A justiça no Velho Testamento era e sempre há de ser uma das três virtudes cardeais da religião permanente. Assim como a natureza humana tem uma pequena parcela de constância, também os requisitos essenciais da religião são sempre, fundamentalmente, os mesmos. De uma vez para sempre Miquéias considerou o sacrifício, até mesmo o holocausto do primogênito, como de menor importância, quando comparado à justiça ética. Como Oséias, ele ensinou que a religião e a ética são inseparáveis (Oséias 6:6). Também o seu conceito de Israel, isso é, da nação, era o de uma personalidade gigantesca, a qual pecava como um e deveria arrepender-se como um. Miquéias simpatizava inteiramente com as classes pobres. Considerava Javé como o Vingador dos oprimidos mudos de Israel. Observou os rostos angustiados dos proletários desamparados e pronunciou invectivas mais fortes contra a aristocracia, que continuava somando bens aos seus bens: “E cobiçam campos, e roubam-nos, cobiçam casas, e arrebatam-nas; assim fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança” (Mq. 2:2).  Ele se recusou a reconhecer as pretensões dos que desejavam ser olhados como a nobreza. Ele sabia que a terra de Israel pertencia a Javé (uma coisa que a ONU e os governantes mundiais da atualidade ainda não aprenderam] e que o Ano do Jubileu era necessário, a fim de que todos pudessem recomeçar. Desse modo, ao pregar a justiça ética, Miquéias antecipou o sociólogo moderno, dando a única solução possível para o descontentamento social. Os  patrícios do seu tempo eram egoístas e os plebeus eram suas vítimas. Cuidemos para que o egoísmo não se apodere de nós.
3. Voltar ao Príncipe da Paz : “E julgará entre muitos povos, e castigará nações poderosas e longínquas, e converterão as suas espadas em pás, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra” (Miquéias 4:3. Também Mq. 5:5). Ele foi o primeiro a prever a utopia pacífica na qual Sião um dia iria se transformar, conforme Mq. 4:1-5 (Comparar com Isaías 2:2-4), tendo dado ênfase ao sublime ideal da profecia que prevalecia no século 8 a.C., da verdadeira essência da sociologia em todos os tempos, na qual a paz e a prosperidade são garantidas. A paz universal, à base da lei e da justiça, sempre foi o ideal social do Velho Testamento. Sobre a base do evangelho ela vem a ser a expressão do amor fraternal. Não deixemos de guardar este ponto!
IX - Estilo - Vivência e ênfase, relâmpagos de indignação pelos males sociais, rápidas transmissões de ameaça, de misericórdia, emoção veemente e simpática ternura. A força, a cadência e o ritmo retóricos, muitas vezes elevados e sublimes. São estas algumas das características mais notáveis do estilo literário do profeta. Ele escreveu em excelente Hebraico. Tanto os seus pensamentos como a sua linguagem justificam sua pretensão de falar com o poder e a inspiração de Javé: “Mas eu estou cheio do poder do Espírito do SENHOR, e de juízo e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado” (Mq. 3:8). Nos versos 1:10-16, Miquéias se vale de uma série de jogos de palavras, alguns dos quais Mofat procura expressar em sua tradução:
Verta lágrimas na cidade das lágrimas (Bochim).
Revolta de poeira na cidade da poeira (Bet-afra).
Passa, desnuda e com vergonha, a cidade formosa (Safir).
Não ousam sair os homens da cidade da saída (Zaanã).
Bet-ezel...
E Morot (amargura) espera em vão,
visto como o mal desceu do Eterno à própria Jerusalém.
Ata aos carros teus velozes corcéis e corre,
ó cidade dos cavalos (Laquis).
Ó fonte do pecado de Sião,
onde se encontram as transgressões de Israel!
Ó filha de Sião, tens que desapossar-te
de Moreset-gat (a possessão de Gat)
E os reis de Israel estão sempre enganados,
na cidade do engano (Aczibe).
Ainda que devores quem te possui,
ó moradora de Maresa (possessão);
até Adulão (justiça do povo)  venderá a glória de Israel.
Faze-te calva, raspa a cabeça
por causa dos filhos dos teus deleites.
Alarga a tua calva como um abutre,
porque todos terão ido em cativeiro!
The Tweve Minor Prophets”, George L. Robinson
Publicado por George H. Doran Co, New York, 1926
Traduzido por Mary Schultze, março/abril 2004
Citações bíblicas da Bíblia Revisada FIEL de Almeida

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